Excluídos Incluídos
A eleição de Abraão e Sara e de sua descendência é um tema, muitas vezes, mal compreendido. O texto de Gênesis 12:1-3 esclarece que essa eleição não era para fazê-los melhores, ou porque eram melhores. A eleição tinha o propósito de fazer deles um canal de benção para toda a humanidade. A exclusividade da eleição, entretanto, confunde não só nossa visão hoje, como confundiu a visão dos próprios escolhidos. Enquanto os escolhidos sentiam-se exclusivos em seu relacionamento com Deus, esqueciam que seu chamado era para serem radicalmente inclusivos com todas as nações da terra. Ou seja, a eleição de Israel não tinha nada a ver com suas características intrínsecas, mas com a graça divina que deveria alcançar todas as nações e pessoas do mundo. Por isso, a narrativa bíblica está concentrada em apresentar as lutas e dificuldades desse povo em cumprir o propósito divino. Em distintos lugares, o texto bíblico nos aponta gente de fora do povo israelita, gente estranha, estrangeira, que não era escolhida como Israel, expondo uma fé maior, um comportamento superior, um relacionamento com Deus mais fiel do que o relacionamento que
aqueles de dentro, os escolhidos, mantinham com Deus. Na verdade, algumas vezes esses outsiders, esses excluídos, tornam-se tão parte do povo, tão incluídos, que não se percebe a diferença entre eles. Essas histórias, desses “excluídos incluídos”, magnifica a graça e a soberania divina. A ênfase é: a graça é maior que tudo e todos.
Texto base: Efésios 2:11-22
Dois endemoniados são tocados curados por Jesus. Não são israelitas, são estrangeiros. A cura deles dos demônios causa uma tremenda agitação econômica e cultural e Jesus é expulso da região. Ao voltar, uma multidão agora o segue, fruto do trabalho de testemunho dos dois curados. Completamente excluídos, por serem estrangeiros e estarem endemoniados, tornam-se testemunhas da graça de Jesus.
Texto base: Marcos 5:1-21
A inclusão dos excluídos não se resume ao Antigo Testamento, obviamente.
No evangelho de Marcos, uma mulher estrangeira, sem nome, de moral questionável e com uma filha endemoniada, completamente impura e, portanto, impossibilitada de pertencer ao “povo escolhido”, aproxima-se de Jesus, sendo por ele acolhida de maneira excepcional. Uma completa estranha, torna-se filha. Jesus inicia um processo profético de fazer aliança com muitos, para além dos muros do judaísmo e da descendência de Abraão, dando exemplo do que Seus discípulos fariam posteriormente.
Texto base: Marcos 7:24-30
Um oficial militar de um exército inimigo de Israel encontra cura para sua doença através do profeta Eliseu. Apesar da história não terminar de maneira tão comovente e profunda quanto as que terminam com uma mudança de status significativa, de excluído a plenamente incluído, Naamã representa um grupo grande de pessoas. Como Naamã, muitos podem não passar a fazer parte do povo de Deus plenamente e manter sua identidade estrangeira, de outsider, mas foram tocados, transformados e curados pela graça divina.
Texto base: 2 Reis 5
Em dois momentos distintos em que o povo de Israel estava prestes a entrar na terra que Deus havia prometida a Abraão, dois estrangeiros protagonizam demonstrações de uma fé madura e inabalável. Calebe e Raabe dão testemunho da confiança irrestrita que tinham em Deus, motivando o povo de Israel a vencer o medo. A história de ambos é um lembrete de que o pertencimento ao povo de Deus não se dava por laços de sangue, mas por relacionamento com Deus.
Texto base: Números 13 e 14; Josué 2
Tamar é uma mulher estrangeira que protagoniza, juntamente com Judá, uma das histórias mais bizarras de Gênesis. Usando táticas eticamente controversas, Tamar busca justiça para sua causa. Completamente excluída por ser canaanita, ela passa a fazer parte da família escolhida e da genealogia do Messias narrada no evangelho de Mateus. Sua história demonstra como a graça divina vai além das nossas concepções de ética e justiça. Texto base: Gênesis 38
Dois personagens vistos negativamente pela maior parte da religiosidade cristã são os irmãos não-eleitos. Ismael, o filho da escrava, e Esaú, o irmão imprudente e impulsivo, são claramente excluídos, já que Isaque e Jacó carregam o peso da eleição divina. A percepção da não- escolha e dos conflitos posteriores entre Israel e os seus vizinhos, descendentes de Esaú e Ismael, acabam cegando o leitor para passagens altamente positivas de suas vidas, na narrativa de Gênesis. Ambos são abençoados e em ambos repousa a graça divina.
Texto base: Gênesis 16, 21, 25, 27 e 33.